31 de dezembro de 2007

O ano que não mudou

Como toda a gente sabe, o criador e regulador do Universo, conhecido e desconhecido, descoberto e por descobrir, passado, presente e futuro, desta e de todas as outras dimensões, aquele que impede que todos os fenómenos ocorram simultaneamente mas antes que se sucedam paulatinamente, é o primordial Tempo: Cronos para os antigos, Casio para os amigos.

O seu braço direito, Minimus, representado no mundo real como um daqueles tracinhos minúsculos nos mostradores pequenos onde corre o ponteiro dos segundos, entra disparado nos exclusivos aposentos de Casio:

"Mestre...", guincha a criatura com voz de falsete, "o último dia do Ano aproxima-se!"

O Regulador Supremo, entretido a fazer anéis de fumo, engasga-se sobressaltado e, após um violento ataque de tosse e um arfar algo aflito, vira-se para o lacaio e, com esgar vingativo e voz rouca, sussurra "Ó meu idiota, mais um susto destes e corto-te o ponteiro ao meio. Irra!"

Minimus prostra-se imediatamente no chão com a barriga sobre o frio pavimento celestial, afastando os braços e pernas, com as palmas das mãos para cima e elevando os dedos médios, em sinal de profunda humilhação e arrependimento.

Casio atira a beata para o ar, que é imediatamente aspirada aleatoriamente para um qualquer Universo. Passeia-se por alguns segundos em torno do corpo inerte de Minimus e por fim pergunta-lhe: "Mas qual é a novidade, minha abécula? Milhões de vezes por nanosegundo celebra-se por todas as Dimensões o banal ritual de mais uma transição completa em torno da estrela que permite a vida àquelas bestas. Qual, e porquê, será esta tão especial ao ponto de me interromperes nos meus afazeres cósmicos?"

"Fmr?" ouve-se uma vozinha esganiçada sumida a emergir do chão.

"Não apenas 'fumar'... Inspirar, criar, planear, executar... Achas que isto é fácil? Mas vá lá, qual a crise?"

Minimus levanta-se, ajeita a túnica e pigarreia qualquer coisa acabada em Terra. Casio assume subitamente um semblante carregado: "Ui. Fosga-se..."

Começa então a dar largas e divinais passadas nos seus aposentos, de forma apressada e inquieta, denotando elevado incómodo. Imobiliza-se repentinamente e, mantendo o tronco direito e a cabeça erguida, começa a desenhar no ar movimentos amplos com os seus quatro braços.

À sua frente surgem então diversos e coloridos conjuntos de símbolos, linhas e frutos tropicais que iluminam a celestial alcova, desenhando formas de rara beleza numa dança nunca antes vista. Algumas das figuras aproximam-se entre si criando novas formas, outras retraem-se e desaparecem e alguns parecem mesmo estar a fazer coisas malandras, tal a voluptuosidade da interacção luminosa que para ali vai.

Tal dança de luz (e frutos tropicais) dura alguns momentos, até que se imobiliza e fixa no ar, com formas bem definidas. Minimus, aterrado, arregala os olhos, todos os seis.

"Cum catano!...", murmura Casio, consternado, "Detesto quando isto acontece, pá...!

"Mas... assim?", pergunta Minimus, a medo.

"É, assim... Minimus, sabes o que tens a fazer."

Minimus abandona vagarosamente o salão. Pouco depois, ouve-se um clique.

Com a cândida luminosidade de todas as cores do arco-íris, realçada aqui e ali por uma manga, um abacaxi e alguns maracujás, paira sobre a divinal cabeça de Casio a inscrição:

«Dim#7/Uni#4.800/Sis#8A9s -"Terra" : Válido até 31.12.2007»

*

30 de dezembro de 2007

Já??!!


Eu tinha a ideia de que o gajo já lá estava há uns tempitos (vá lá, eras), mas 500 anos? Phone-ix!

[Cortesia do portal sapo, esta manhã]

29 de dezembro de 2007

Go, Robo!

Um dos filmes que mais marcou a minha adolescência e, até, maneira de andar (não perguntem), foi a fábula pastiche futurista de Paul Verohoven, Robocop.

A adolescência é uma altura tramada, em que as hormonas nos dão cabo do sistema, somos extremamente influenciáveis e desenvolvemos uma capacidade absolutamente insuspeita de fazer merda e em grande.

No caso, a procura de identidade.

É um mito, um Santo Graal recorrente esta trampa de andarmos em busca do nosso eu.

Como toda a gente sabe, a nossa identidade está no BI.

Todas as demais variações de qualquer dúvida que possamos ter em relação a nós próprios caem nos domínios ou da fantasia ou do foro patológico; o que acontece é que muitas vezes não gostamos daquilo que somos ou, pior, queremos ser como outra pessoa qualquer e, por qualquer razão, falta-nos a força ou vontade de sermos nós próprios, escolhendo a opção sempre fácil da desresponsabilização e do alheamento, projectando a nossa atenção, interesse e, eventualmente, justificação para fora de nós, nos outros.

Não dá, é escusado: ou se cai na real ou se procura tratamento profissional (leia-se neurologista, psicólogo ou psiquiatra, *não* aquelas fantochadas burlescas new age tipo astrologias, conversas com deus ou o catano - reparem no requinte de malvadez ao escrever a palavra divina com minúscula: estou *tão* condenado ao fogo eterno) - Somos quem somos e o que fizemos, temos mais é que nos orientar, aproveitar e rentabilizar.

Isto tudo a propósito da cena em que o cibernético outrora (ao fim e ao cabo, ainda) Alex Murphy recolhe do computador informações sobre a sua identidade humana, é confrontado com a sua própria morte e, ao mesmo tempo, recorda cenas da vida passada: pequenos instantes como brincadeiras banais com o filho, palavras trocadas com a mulher... Enfim, todos aqueles momentos a que não ligamos e só lhes damos o devido valor quando os já não podemos ter - aquela viagem que o cyborg faz ao passado, à casa onde então fora feliz (ou, no mínimo, humano) é absolutamente antológica, com o granulado da imagem nas transições entre as memórias digitalizadas e as cenas reais, redescobrindo a sua vida, sendo assim aquela réstea humana atirada impiedosamente para a fria constatação da desolação da realidade. Um mimo.

Por isso, é aproveitar que isto não dura sempre.

Como dizia Roy Batty no final do seu período de vida ao Blade Runner Rick Deckard: all those moments, lost, in time, like tears... in rain.

Problemas de comunicação

Qualquer ajuda é bem-vinda: formulários para (quase) todos os gostos e situações.

28 de dezembro de 2007

Stonehenge

Apesar da conotação druídica do título, este post não tem necessariamente a ver com qualquer tipo de (mais uma) provocação pagã nesta quadra que atravessamos. Poderá, todavia, ter a ver com a cara de pau dos muitos que a celebram, mas quanto a isso cada um enfiará a carapuça que melhor lhe aprouver.

Há muitas e variadas maneiras de enfrentar os problemas, sendo que a mais fácil e a que inevitavelmente acaba por dar merda é ignorá-los - a coisa vai crescendo e, quando damos por ela, estamos literalmente afundados e/ou esmagados pela dita.

É claro que sempre há aqueles que nasceram sodomizados pelo nosso satélite natural, sendo que por qualquer ínvia e inexplicável razão acabam normalmente por se safar de situações complicadas, as mais das vezes criadas pelos próprios, que acabam por estoirar sobre qualquer outro infeliz incauto.

Agora, quanto ao título deste post.

Trata-se de mais um clip da mais famosa banda inexistente de todos os tempos, os Spinal Tap.

No momento anterior ao da actuação ao vivo, vemos o manager do grupo a entrar em parafuso com a artista que concebeu o cenário para aquela noite. Com razão, como divertidamente se pode verificar.

Depois, já quando a banda está a atingir o clímax da performance, precisamente do tema Stonehenge, dá-se a catástrofe; os músicos olham incrédulos para o manager, que lhes retribui placidamente um ar de confiança, paz e simpatia - profundamente contrastante não só com a sua atitude anterior com a designer, mas também com o flop do efeito pretendido.

Trata-se, sem dúvida, do momento mais marcante da cena: a capacidade humana de se borrifar para os outros e de ignorar os problemas, perante a iminência do desastre; tudo um misto de que se lixe/não há problema/não fui eu que fiz a merda/so what?...

Há quem se safe. Eu, não - embora muitas vezes não resista à tentação, ou não fosse errar humano.

Entretanto, sem mais delongas, Spinal Tap em Stonehenge.

27 de dezembro de 2007

Admirável mundo novo

The story of Megan Meier, the 13-year-old girl who committed suicide after she became despondent over a MySpace hoax, is definitely tragic. Most importantly, it should have never happened. As many people know by now, the adult behind the online prank was Lori Drew, the mother of one of Megan’s childhood friends. But should Drew be the only one to blame for Megan’s suicide?

Nope. E aqui fica uma letra catita de Depeche Mode que tem tudo a ver.

Girl of sixteen, whole life ahead of her
Slashed her wrists, bored with life
Didn't succeed, thank the lord
For small mercies

Fighting back the tears, mother reads the note again
Sixteen candles burn in her mind
She takes the blame, it's always the same
She goes down on her knees and prays


I don't want to start any blasphemous rumours
But I think that gods got a sick sense of humor
And when I die I expect to find him laughing

 

Depeche Mode - Blasphemous Rumours

Como refutar o Criacionismo

Basta um qualquer argumento de caca.

26 de dezembro de 2007

Sofreu por nós

É possível que ali mais para baixo tenha escrito algo como solitário orgasmo natalício. Afinal, não é tão solitário como isso.

25 de dezembro de 2007

Não custa nada. Quase nada.

* Nativa Idade *

Uma das imagens com que mais nos martirizam a cachimónia desde a infância, além do gorducho barbudo bonacheirão e do trinca-espinhas barbudo algo crucificado, é aquela da Natividade - vá lá, o Presépio.

O meu preferido é este [link para uma foto no Flickr em que o autor, com alguma pertinência, procura demonstrar a razão de ser do nervosismo da ovelha].

Há quem, com requintes de rigor cronológico, apenas coloque a figura nascitura exactamente à meia-noite, atingindo assim um solitário orgasmo natalício, olvidando que tudo não passa de uma mera construção simbólica, com a agravante que, no caso, os símbolos não representam qualquer realidade, apenas estórias.

Por razões que não vêm ao caso, vou passar esta noite sozinho. Not home but alone, so to speak.

Estou a tentar não referir expressões alusivas à quadra, tipo espírito natalício e afins, não por qualquer racionalismo exacerbado, mas apenas porque é patético balizar ou estabelecer objectivos comportamentais em função de celebrações idiotas.

Feliz Natal! O que é que isto quer dizer? O Boas Festas ainda vá que não vá, apela a um certo sentimento humano de comunidade, recato familiar, as orgias do fim do ano... Agora Feliz Celebração do Nascimento Daquele Que Apenas Por Erro de Tradução Se Diz Que Nasceu de Uma Virgem Quando No Original Se Escrevia «Jovem» e Desse Modo Criou Toda Uma Série de Equívocos e Crenças Insanas em Fecundação, Literalmente, Por Obra e Graça do Espírito Santo é que não.

Aquela expressão que há pouco acabei por referir, e que agora repito, espírito natalício, traduz uma ideia que se pode e deve manifestar em qualquer altura do dia ou do ano - no essencial, ser boa onda - connosco e com os outros. É uma frase feita, eu sei, mas só se lembram desta porra nesta altura do ano.

Não é preciso montar uma manjedoura da Barbie para marcar uma posição, demonstrar afectos ou certificar uma conduta.

Por exemplo, há pouco no regresso do trabalho uma velhota tentava equilibrar uma pilha de bolos e embrulhos enquanto procurava as chaves da porta.

Ajudei-a no exacto momento em que a torre começava a cair e ela, agradecida, quis oferecer-me um Bolo Rei: Comprei a mais, fique com um pequenino, menino...

Recusei, tal como a ajudaria desinteressadamente em qualquer outra altura do ano.

E daí, se fosse noutra altura, ainda era capaz de lhe pedir o número de telemóvel da neta.

* Bom Feriado *

24 de dezembro de 2007

Afinal não sou o único a trocar as quadras

Isso era na Páscoa, urso:

A three-day miracle drama in Chhattisgarh's industrial town of Raigarh ended on Monday afternoon after a Hindu priest, who had committed suicide promising to return to life within 72 hours of his death, was cremated.

É Natal, ninguém leva a mal

Uma pausa nas vacances, sobejamente justificada: dar a conhecer a existência de um estudo sobre a distribuição capilar púbica.

Trata-se de leitura praticamente obrigatória na quadra que atravessamos, para nos recordar que há quem tenha uma existência mais difícil que a nossa e que para ganhar a vida tem de andar por aí a chafurdar em virilhas e a catalogar pirilaus.

Vendo bem, agora que penso nisso, acho que é no Carnaval que ninguém leva a mal, mas agora olha, já está.

21 de dezembro de 2007

Até para o ano

Por agora, é tudo.

20 de dezembro de 2007

A Origem das Espécies

Esqueçam Darwin, a Bíblia, o Big Bang, Richard Dawkins e até o blog do Francisco José Viegas.

Experiências pessoais recentes, algumas ainda em curso, demonstram que, de facto, Douglas Adams [Wikipedia] (autor do Hitchhikers Guide to the Galaxy) estava certo. Passo a explicar...

Há muitos, muitos anos (ou num futuro próximo, eventualmente), no distante planeta Golgafrincham, a classe pensadora, com receio de ser corrompida pela boçalidade, banalidade e inutilidade da restante população do planeta, estimada em cerca de um terço, engendrou um plano que não podia falhar: anunciou que uma ameaça iminente estava prestes a destruir o seu planeta, donde ser urgente abandoná-lo, a bordo de uma gigantesca nave.

Sucede que a ideia era meter os tais inúteis na nave, mandá-los para o espaço e fazer com que, suavemente, se despenhassem num qualquer planeta onde não fizessem estrilho. Acabaram por se despenhar e até exterminar, acidentalmente, tal a nabice, a extraordinariamente desenvolvida e sapiente população indígena.

A piada (e também génio e premonição, não falando no extremado rigor sociológico e científico) é que os tais inúteis eram gestores, cabeleireiras e funcionários de limpeza de telefones.

O triste, é que está mais que visto em que planeta é que se foram espetar.

O Melhor. Refrão. De sempre.

A propósito de um comentário da b-good ao post do spider pig, sugerindo a versão a capella para música ambiente nesta quadra natalícia, deixo aqui outra proposta completamente diferente, mas que seria bonito se unisse miúdos e graúdos numa plácida, todavia rejubilante, noite de consoada:

Do it now
You and me baby ain't nothin' but mammals
So let's do it like they do on the Discovery Channel
Do it again now
You and me baby ain't nothin' but mammals
So let's do it like they do on the Discovery Channel
Gettin' horny now

The Bloodhound Gang

17 de dezembro de 2007

Estou a precisar de férias porque...

  1. Quando quero desligar o aquecimento central perco um minuto à procura do raio do botão no microondas;
  2. Sei que quero postar qualquer coisa mas só me ocorre a minha figura de urso a olhar especado feito parvo para o microondas.

Webloga-me que eu gosto

Faz hoje precisamente dez anos que o termo weblog foi utilizado pela primeira vez: o seu autor, um janado anti-semita chamado Jorn Barger, via (e vê) aquilo a que hoje chamamos blog como uma colecção de links que consultamos e nos interessam aquando das nossas navegações, não propriamente como publicação de material original [olhem aqui o cromo].

Manias dessas e preciosismos terminológicos à parte, para assinalar este dia volto a pôr ali naquela coisa que desliza ao lado o link para o meu, hã... link blog: o Lido por aí é a colecção de páginas que vou visitando e que, por uma ou outra razão, me despertaram o interesse ou, mesmo, a minha libido insaciável.

Aviso: um weblog (no caso, colecção de hiperligações) pode revelar o pior e mais soturno que há em nós... ou então não.

16 de dezembro de 2007

Season's Greetings!

A dificuldade, ou nem por isso, de arranjar um sinónimo para o Natal [link para cartoon].

Um Milagre de Natal

Que, obviamente, não aconteceu.

Depois do almoço da empresa, com os dez ou doze mânfios do costume, subitamente estávamos (vá lá, deixaram-nos) sozinhos: apenas eu e ela.

- Voltamos já ou vamos dar um voltita para arejar?, pergunto-lhe.
- Boa ideia, estava a ver que nunca mais...

Um trajecto que demora, em média, 2 minutos e 34 segundos (a sério, já o cronometrei várias vezes, tal a excitação que vai por aqui), transformou-se em meia hora com direito a passagem pelo densamente arborizado e sombrio jardim da cidade que, àquela hora, estava pejado de liceais a dar asas às suas hormonas e fluidos corporais sortidos.

- E pensar que já fiz aquelas figuras... - deixo escapar, de forma absolutamente desinteressada.
- Eu também. Sinto tanta falta, da adrenalina, do calor, da emoção. Aos anos que tudo isso já lá vai... As saudades... A falta que me faz sentir-me outra vez assim... viva.
- Então, vamos?
- Fazer o quê?...
- Voltar para o trabalho, pá - tenho uma reunião às duas.

O único óbice que vejo ao meu ateísmo e racionalismo é não acreditar que posso passar uma Eternidade a ser merecidamente açoitado por perder oportunidades como aquela.

Sou, de facto, uma besta.

13 de dezembro de 2007

Best. Audio clip. Ever.

Spider Pig.

Responsável Idade

Os miúdos, por via de regra, adoram os pais: idolatram-nos (o que é simpático da parte deles), tentam imitar-nos (o que pode ser perigoso) e, no geral, tomam-nos por modelo (o que, na maior parte das vezes, revelar-se-á extremamente embaraçoso quando crescidos).

Por isso, nunca tentei enganar o meu para comer, vestir-se ou estudar. Já sabe que quando morrer não se transforma em anjinho nem vai para o céu, antes vai parar debaixo da terra, fazer parte do pó primordial de onde todos nascemos. Que não há bicho papão ou outra qualquer fantasia infantil que olhe por ele ou contra ele.

É claro que o que estraga tudo é o cabrão do Pai Natal - a única mentira, digamos, a única realidade não completamente esclarecida por mim junto do seu pequeno mas hiperactivo cérebro.

Ora eu não quero que ele pense que o pai mente, mas também não quero destruir uma ilusão, talvez a única que ele tem com esta idade (pouca, mas já viveu e passou por muito).

Estou a pensar em algo do género «olha, filhote, este ano é o Papá e a Mamã que te vão dar as prendas. É que, sabes, o Pai Natal teve um acidente e...»

Outras sugestões?

12 de dezembro de 2007

Cenas


Isto aqui passa-se exactamente a 63 anos-luz de distância da Terra: o exoplaneta HD 189733b a orbitar solitariamente a sua estrela, tão próximo desta que a temperatura à superfície deste gigante gasoso, ligeiramente maior que o nosso Júpiter, atinge os 700 graus centígrados.

Uma das maiores vantagens de estar vivo (eu sei, isto dito assim parece estúpido) é a constante possibilidade da surpresa, da descoberta. Do saber, do perceber. Do duvidar, do explicar.

Por isso, é uma pena que tanta e tanta gente ainda pense que é um senhor de longas barbas brancas, algures em órbita e um pouco por todo o lado, que criou, controla e define tudo isto - compreendia-se, quando para nós o infinito e o desconhecido começavam onde acabava o horizonte, mas há muito que o horizonte deixou de ser o limite.

Se alguém me estiver a ouvir aí em Cima, cuidado: é melhor baixar a etérea cabeça ou arrisca-se a levar com a Lua nos cornos.

Festiva Idade

Aproxima-se aquela época do ano em que ninguém está de acordo onde é que se vai jantar, se na casa dele ou dela, quem se vai convidar, quem se pode, deve e quem está definitivamente proibido de pôr os cotos nesta ou naquela casa, em que os defeitos culinários de quem calhou a fava de alimentar a grunhada toda que já não se via desde o frete do ano anterior serão sarcasticamente exacerbados e, basicamente, a altura em que as depressões da solidão vão acabar com muitas existências que injustamente se consideravam miseráveis.

É a vida, em todo o seu esplendor da renovação.

10 de dezembro de 2007

Coisas que me excitam superiormente

Este toque...



Não interessa qual o telemóvel que tenha, arranjo sempre maneira de usar este toque: a suavidade, o trinado, a sensualidade, a promessa de um sussurro envolvente, o enlevo no despertar da letargia do quotidiano... Ah, continental, continental...

Isto é sério, eu sou mesmo assim.

Basicamente

Ser politicamente correcto é fodido.

5 de dezembro de 2007

Fi-lo, Sofia...

Tirando a professora do nono ano que se vestia como uma actriz porno e dava as aulas de perna aberta sentada em cima da secretária, a filosofia nunca me despertou um interesse por aí além - aliás, rigorosamente nenhum.

Esta cena do pensar, e porque é que se pensa, o que é que se pensa, para saber, o que é o saber e todos aqueles nomes superiormente metrossexuais dos rabetas gregos que se sodomizavam à bruta sempre me atazanaram até à exaustão.

Até que envelheci e o bom do velho Kant - com aquela konstrução do ser e o dever ser - me bateu de repente, apenas para acordar e chegar à triste conclusão que, querendo ser sempre aquilo que não somos, nunca somos o que devemos ser. Muitas das vezes, por medo.

1 de dezembro de 2007

Vou ali e já venho