15 de setembro de 2008

Tempo

Poucas coisas nos fazem aperceber da inexorável passagem do tempo como o confronto com o nosso próprio passado.

De passagem pelo prédio de onde saí há cerca de quinze anos, lá estavam quase todos: o do 4.º F que quase se matava para ser o administrador do condomínio, com o seu bigodinho algo hitleriano, o jovem casal então ansioso pelo nascimento do primeiro filho que devia estar ali mesmo, mesmo a rebentar, o pica da CP com o seu ridículo risco ao meio, a miúda de catorze anos deprimida que não queria sair de casa por se achar feia.

Hoje, o tipo dos bigodes, já grisalhos, continua administrador, o pica tem madeixas louras (nunca me enganou, aquela maluca), o então jovem casal sobrevive agastado, com um menino de catorze anos que padece de uma perturbação neurológica de nascença que o transformou praticamente num vegetal e a miúda com medo de ser feia saltou do sétimo andar.

Dos que ficaram, nenhum parece ter-me reconhecido.

1 comentário:

Patioba disse...

E, às vezes, apetece tanto voltar a "esse prédio" de 15 anos atrás e tratar de pôr algumas coisas no seu devido lugar para, quando regressassemos ao "agora", não termos um camião de trampa estacionado à nossa porta com o letreiro "Para arquivo!"...