20 de outubro de 2007

Coisas que me atormentam

Foi um dia destes quando estava a conduzir para o trabalho, a ver os outros a ir e a vir, que de repente me aconteceu: mas para onde é que estamos todos a ir com tanta pressa? Para quê?

Note-se que isto não é exactamente a mesma coisa que andar em busca do sentido da vida - a resposta a essa procura é fácil, mas já lá vamos; não, o que me preocupou na altura foi por que raio deixámos de viver em cavernas, abandonámos (alguns de nós, pelo menos) o cardiovascularmente são hábito de arremessar pedras aos vizinhos, o desancar a mulher à porrada e ir atirar pontas de sílex a mamutes?

Em conversas posteriores não cheguei a nenhuma conclusão. Desde o clássico é assim, o que é que queres ao não questiones os desígnios do Senhor, passando pelo mas não era suposto ter já ligado o computador?, fiquei na mesma.

Mas a resposta é simples: não vamos a lado nenhum.

Não há qualquer propósito naquilo que fazemos (o que fazemos seguindo um genético e evolucionário instinto de sobrevivência da espécie): Big-bang, poeira, nós, poeira. Só.

Certamente que muito boa gente pergunta qual o propósito da nossa existência, qual o significado das nossas vidas, para onde é que vamos todos.

Ora o cerne da questão encontra-se num momento lógico anterior: primeiro, há que saber se há um propósito sequer, antes de perdermos tempo a encontrar um. É que o mero questionar da existência de um propósito não significa que ele exista: o questionar, ao menos nestes termos, é uma atitude exclusivamente humana e inerente a um ser pensante. A pedra da calçada está-se bem marimbando para a existência de um qualquer desígnio que justifique a sua realidade - limita-se a existir: ela e todo o Universo, logo também nós - uma existência fáctica, pura, sem qualquer propósito, apenas como consequência de uma causa primieva.

Assim, não havendo propósito (ou finalidade, algo diferente mas que para o efeito pode considerar-se semelhante), questionarmo-nos sobre qual ele seja é irrelevante: não existe.

Quanto ao para onde vamos, bem, enquanto o Sol não rebentar e o resto do Universo também, continuamos alegremente a consumir oxigénio, expelir dióxido de carbono e a aturar a degeneração dos tecidos ao longo de uma cada vez mais considerável esperança de vida.

1 comentário:

Pseudo disse...

É, acho que andas a precisar de uma valente queca :)