27 de agosto de 2007

Cenas

Um dia destes um colega chamou-me a atenção para o facto de a única diferença entre mim e um canalizador ser não andar com o rabo parcialmente à mostra.

Respondi-lhe para não ter tanta certeza disso. Mas percebi perfeitamente o que ele queria dizer, mesmo sem a detalhada explicação que se seguiu.

Isto a propósito do tipo do descapotável vermelho que estava ainda agora à porta do meu prédio; ou a mulher do Volvo, encostado ao passeio à sombra de uma árvore umas dezenas de metros mais à frente. Que relação é que estes factos isolados têm com o meu dilecto tema da badalhoquice?

Tudo, porque estavam ambos ao telemóvel.

Quanto a ela, até dou um desconto, não será muito relevante para o caso; agora o gajo do pópó fino, esse está bem quilhado com a minha tortuosa e sádica mente viperina. Passo a explicar.

Isto até que é um bairro sossegado, conhecemo-nos mais ou menos todos uns aos outros, não há grandes novidades.

Por isso, o gajo do descapotável vermelho não era daqui. Um tipo que se perdeu ou resolveu fazer uma breve paragem para pôr a conversa em dia? Pouco provável, pois existe uma miríade de artefactos do tipo mãos-livres, a que se soma a temeridade de efectuar chamadas sem os mesmos; mais, o tipo estava estacionado de frente para a rua em lugar destinado aos residentes.

Conclusão lógica? Tratava-se de uma breve paragem, estava à espera de alguém do prédio, que não deveria demorar muito, atendendo à forma como estacionara e ter permanecido dentro do carro.

Agora, a conversa. É claro que não a ouvi: tenho mais coisas que fazer (embora não muitas) do que ficar a ouvir conversas alheias em que um dos interlocutores faz dois de mim; todavia, o ar de idiota, sorriso permanente e entoação tipicamente de engate, não deixa margem para grandes dúvidas: o camelo estava à espera de alguém e entretanto já estava a tratar do pinanço pós-alguém.

Então aparece a minha vizinha do 5.º Dto, que quando chega ao descapotável já não se apercebe de qualquer telefonema.

Eu não tenho culpa, não é que eu veja badalhoquice em todo lado por qualquer paranóia em especial - é que ela existe, e pena tenho eu de não badalhocar.

1 comentário:

Pseudo disse...

LOL! Não tens mesmo mais nada que fazer para estares à varanda em frente ao Tejo a apreciar a vida dos outros, seu invejoso? :)